Hoje fiz grandes reflexões sobre este país: as periferias dos países ricos ou os latinoamericanos sao mais violentas que a de Havana, porque nesta não há drogas nem armas. O que também gostei foi não haver visto meninos de rua, crianças pedintes. Pela madrugada, em Havana, se encontra um ou outro mendigo dormindo na calçada, mas nada como a legião que encontramos no centro de Sao Paulo. Os pedintes, que são poucos, são aparentemente alcólatras, porque fome aqui nao há.
Sobre o dogmatismo político-revolucionario
É muito eficiente, já que não se fala em política e poder por aqui; é realmente um país fechado no que se refere à comunicacão com o exterior. Os meios de comunicacao são todos do Estado e o tom é sempre ufanista. Graças a Deus não há publicidade na tevê e nem nas ruas - apenas sobre a glória revolucionária. Nos bairros mais marginais de Havana nao há uma pichação sequer contra o Estado. O uso da internet é restrito aos turistas e a alguns funcionários do Estado. A maior parte dos cubanos nao pode ter acesso à internet.
Tenho que acrescentar que esta foi uma das poucas revoluções armadas que triunfou positivamente, certamente pela integridade de seus dirigentes. Mas parece um pouco falso o tom heróico da publicidade do Estado; talvez porque o poder nao tenha a ver com o humano.
Cuba guarda paradoxos ímpares: o que lhe faz bem, por outra razão lhe faz mal. Ser uma ilha foi fundamental para o regime, para o controle da entrada de informações e de armas, mas torna mais oneroso o transporte de alimentos e de produtos tanto para dentro como para fora. O turismo funciona do mesmo modo, é por ele que entram recursos no país e é devido à influência desses turistas (todo o aparelho para recebê-los e sua própria presença como ricos e viajantes) que o consumismo começa a penetrar na sociedade cubana e o deslumbre da tecnologia começa a submeter seu povo.
O que me surpreendeu foi a vontade política no que se refere a recursos legados à educaçao. A província de São Paulo tem um PIB muito superior ao de Cuba e também uma arrecadaçao vultuosa, no entanto seus investimentos na educação devem ser menores que os de Cuba - digo isto pelas qualidades das suas instalações e auxílio estudantil.
Analisados os problemas, pensamos em algumas possíveis soluçoes: 1. Reformar a educação, inovando procedimentos didáticos, "destradicionalizando-a". Para isto são necessários recursos, investimentos. Embora os institutos "ginasiais" de arte sejam bons, é um equívoco que estes jovens lecionem para crianças e ginasias, como acontece. Uma boa formaçao artística é fundamental para defender-se dos mecanismos de dominação da poderosa indústria cultural. Em segundo lugar, Cuba deve investir em venda e promoção de obras de arte e de conhecimento científico.
Quanto à cultura, o interessante de presenciar a sociedade cubana é notar que embora se proponha sem classes, ocorre uma divisão por preferencias e escolhas culturais. Quanto mais intelectualizado, mais traços aristocráticos - assim pude notar em uma premiação literária de Camaguey.
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