terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

CUBA

Hoje fiz grandes reflexões sobre este país: as periferias dos países ricos ou os latinoamericanos sao mais violentas que a de Havana, porque nesta não há drogas nem armas. O que também gostei foi não haver visto meninos de rua, crianças pedintes. Pela madrugada, em Havana, se encontra um ou outro mendigo dormindo na calçada, mas nada como a legião que encontramos no centro de Sao Paulo. Os pedintes, que são poucos, são aparentemente alcólatras, porque fome aqui nao há.



Sobre o dogmatismo político-revolucionario


É muito eficiente, já que não se fala em política e poder por aqui; é realmente um país fechado no que se refere à comunicacão com o exterior. Os meios de comunicacao são todos do Estado e o tom é sempre ufanista. Graças a Deus não há publicidade na tevê e nem nas ruas - apenas sobre a glória revolucionária. Nos bairros mais marginais de Havana nao há uma pichação sequer contra o Estado. O uso da internet é restrito aos turistas e a alguns funcionários do Estado. A maior parte dos cubanos nao pode ter acesso à internet.



Tenho que acrescentar que esta foi uma das poucas revoluções armadas que triunfou positivamente, certamente pela integridade de seus dirigentes. Mas parece um pouco falso o tom heróico da publicidade do Estado; talvez porque o poder nao tenha a ver com o humano.



Cuba guarda paradoxos ímpares: o que lhe faz bem, por outra razão lhe faz mal. Ser uma ilha foi fundamental para o regime, para o controle da entrada de informações e de armas, mas torna mais oneroso o transporte de alimentos e de produtos tanto para dentro como para fora. O turismo funciona do mesmo modo, é por ele que entram recursos no país e é devido à influência desses turistas (todo o aparelho para recebê-los e sua própria presença como ricos e viajantes) que o consumismo começa a penetrar na sociedade cubana e o deslumbre da tecnologia começa a submeter seu povo.



O que me surpreendeu foi a vontade política no que se refere a recursos legados à educaçao. A província de São Paulo tem um PIB muito superior ao de Cuba e também uma arrecadaçao vultuosa, no entanto seus investimentos na educação devem ser menores que os de Cuba - digo isto pelas qualidades das suas instalações e auxílio estudantil.





Analisados os problemas, pensamos em algumas possíveis soluçoes: 1. Reformar a educação, inovando procedimentos didáticos, "destradicionalizando-a". Para isto são necessários recursos, investimentos. Embora os institutos "ginasiais" de arte sejam bons, é um equívoco que estes jovens lecionem para crianças e ginasias, como acontece. Uma boa formaçao artística é fundamental para defender-se dos mecanismos de dominação da poderosa indústria cultural. Em segundo lugar, Cuba deve investir em venda e promoção de obras de arte e de conhecimento científico.



Quanto à cultura, o interessante de presenciar a sociedade cubana é notar que embora se proponha sem classes, ocorre uma divisão por preferencias e escolhas culturais. Quanto mais intelectualizado, mais traços aristocráticos - assim pude notar em uma premiação literária de Camaguey.





CUBA, AOS QUE NAO FORAM

Cuba se tornou um país excepcional, que reúne muitos paradoxos. Há duas moedas, uma que vale 24 vezes o valor da outra. Há dois comércios, o que vende em uma e o que vende em outra moeda. O da moeda mais forte possui os produtos importados, de melhor qualidade, mas também alguns básicos que costumam faltar no da moeda popular. A partir daí Cuba começou a dividir-se socialmente entre aqueles que podem disfrutar do mercado importado e os que não o podem. Maneiras de ascenção social: comerciar de alguma forma com a moeda mais forte, usada majoritariamente e a princípio pelos turistas - há todo um mercado de qualidade armado para estes. Outra maneira de ascenção é possuir um parente no exterior que lhe envie uns 50 dólares por mês, o que equivale a dois meses de trabalho em Cuba.



Estando aqui percebo que meu país é muito rico, abundante, mas também problemático. Em Cuba falta papel (higiênico, sulfite e guardanapos), sabão em pó e outros produtos, dependendo da época, mas não se passa fome, nem há criminalidade, tal qual a conhecemos (furtos há muitos, devidos às carências), nem mortalidade infantil, desnutrição, trabalho infantil. Isto presenciei com meus próprios olhos. Ao contrário, aqui o Estado é forte, o policiamento é respeitado e é fortíssimo - a cada esquina há um policial atento, olhando por dentro dos seus olhos. Há muitas escolas, muitas crianças indo a escola, todas uniformizadas, caminhando pela cidade para aulas práticas. Há muitos espaços públicos, praças e parques belamente conservados. Sobre os esportes nao é necessário falar, possuem amplos espaços e incentivos para as práticas.



A educação tem sua falha no que tange à ideologia, já que a revoluçao tornou-se um dogmatismo incontestável cheio de heróis. Mas de fato tiveram sua glória e sua integridade. Não conheci nunguém no interior que não trouxesse no coracão uma pureza virginal relativa à revoluçao e seus heróis. O militarismo também é altissonante e isto se vê pela potência atlética do país, por sua pontulaidade e corpos subservientes.



Quanto a questão cultural e artística, parece ser tão difícil como no resto da américa latina devido à tradiçao escravocrata e colonial, mas ouso dizer que Cuba está a frente de nosso país em participaçao e dedicaçao às artes. E eles têm mais tempo, se dedicam só à arte, e nãoo sofrem a opressão que sofremos do consumismo.



Com respeito às classes sociais, estar no interior de Cuba de certa forma é como se estivesse em uma sociedade latino-americana no início da sociedade de consumo. O chuveiro elétrico ainda é privilégio de poucos e os automóveis também - carroças, charretes e bicicletas abundam. O desejo humano de ser melhor que o outro, de ser superior ao outro aqui é assumido por alguns signos: o ouro nos dentes, colares e orelhas é usado por todos os "níveis" culturais; as roupas de "grife" são usadas pelos mais desinformados, além do gosto por eletroeletrônicos e enfeites da china.



Por fim, somos latinoamericanos e 50 anos de "igualdade" e educação massiva não poderiam nos tirar do deserto letrado que nos encontrávamos; por isso, não econtrei a tradição artística e cultural que imaginava.