quinta-feira, 13 de setembro de 2007

À CRÍPTICA DO MARCOLA, NOSSO MICOTRISTE

Sobre o tom canônico de sua crítica, a pricípio, o li como sátira. Mas fui vendo que não, não houve essa intenção, esse distanciamento que imaginei. Agradeço pela debruçada ante o poema, fizeste bela críptica.

O autor, que sou eu (embora concorde com Foucault, para quem não existe autoria), tem considerações biográficas a fazer. Farei-as de modo anacrônico e desconexo, como convém à escrita da "felicidade", ao ensaio, como escreveu Adorno.Na boca da favela de casa um homem tinha um botequim. Muita cachaça e muita farinha, chamava aos outros de "Oh,comedor!...de farinha". Era um comediante. Também chamava a alguns, quase todos, de "Pé inchado". Se escutava: "Oh, péinchado!", inferindo que o outro era cachaceiro, pois a danada incha os pés e quem muito bebe. Esse pregão sacana que ele rogava ficou como música na minha cabeça.

Numa tarde dura de Sol, (dum trampo fudido que eu tinha, que caminhava o mundo e não ganhava um puto) dei-me com uma estação de trem perto de Pirituba. Cercada horrendamente por estacas de ferro e arame farpado, a estação se defendia da cidade. Entrei e vi um grupo de uns vinte garis, de trajes amarelos d’oiro, carpindo entre trilhos. Os danados estavam ali, entre o muro horroroso de arame farpado e o trilho mortal do trem. Carpiam e carpiam, suavam, eram homens de meia idade. Meu pai poderia estar ali, pensei, pois se encaixava àquele perfil.

O ensaio pode terminar aqui, pois não tem o compromisso de fechar uma idéia. Está tudo aí, que ajunte os signos o leitor.(Os dois leitores que tenho, se é que chegam a dois).